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Arquitetos: Batlleiroig
- Área: 197000 m²
- Ano: 2003
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Fotografias:José Hevia
Descrição enviada pela equipe de projeto. A cidade de Viladecans está no município de Baix Llobregat, na Província de Barcelona. Assentada originalmente sobre a Rua de Barcelona, atual C-245, que corre paralela à linha do mar unindo os povoados à margem esquerda do Llobregat com os do limite do delta, teve até os anos cinquenta um desenvolvimento urbano linear, com uma clara tendência a conectar seu centro urbano com os outros vilarejos vizinhos ao longo da C-245. A explosão demográfica dos anos sessenta e posteriores, assim como a implantação de grandes indústrias, modificou esta tendência, potencializando um crescimento como uma mancha de óleo. No entanto, as condições geográficas e estruturais do entorno atrapalharam esta expansão; a montanha por sua orografia; até o mar o traçado das grandes infraestruturas (rodovia e estrada de ferro) e; no leste pela presença da Riera de San Climent.
Viladecans, como a maioria de cidades à margem esquerda e a beira do delta de Llobregat (Sant Vicenç, Santa Coloma de Cervello, Sant Boi, Gavá, Castelldefels etc.), não só teve dificuldades em sua expansão por culpa do rio de San Climent, mas historicamente lhe deu às costas ate que estes acabaram convertendo-se em bueiros à céu aberto, onde eram jogadas as águas residuais e se acumulavam resíduos provenientes de derrubadas. No entanto, no caso de Viladecans, o crescimento demográfico, fizeram o município reconsiderar a necessidade de crescer para além do rio e portanto repensar seu papel no conjunto da cidade. Assim, a expansão de Viladecans foi pensada tendo a Riera como o coração de seu crescimento até o leste e como fio condutor de sua expansão até o sul. Nossa proposta urbanística tentou estabelecer um sistema de parques no interior da cidade aproveitando os vazios que a própria cidade havia gerado no processo de ocupação do território. Estes vazios, arrematados pelo rio, converteram-se em novos espaços livres da cidade e permitiram uma continuidade do passeio de pedestres, antes inimaginável.
O projeto geral baseou-se em interpretar o rio como um corredor natural de conexão entre o parque agrícola e a montanha através da cidade, convertendo-o em um parque urbano, incorporando quando fosse possível as tramas descobertas, recuperando sua vegetação autóctone e convertendo as partes cobertas em passeios arborizados. O parque foi concebido partindo-se de seu caráter de corredor ecológico, como uma sucessão de alamedas longitudinais de diferentes tipos de solo que acompanham os diversos caminhos de pedestres e ciclistas. Trabalhou-se especificamente nas correções hidráulicas que melhoraram a sazonalidade do rio eliminassem as cheias inoportunas, vegetou-se o leito do rio com espécies autóctones. O conjunto conformava um novo eixo urbano norte-sul, e ainda conectava a parte consolidada da cidade aos novos crescimentos ao leste, mediante o traçado de novas vias de comunicação que respeitavam a continuidade do parque. No último ramo urbano da Riera de Sant Climent, justo entre a antiga rua C-245 e a rodovia, fronteira urbana antes do parque agrícola, a cidade teve a oportunidade de desenvolver-se por uma extensa franja do território paralelo à estrada. A gestão unificou as areas verdes pública do setor ao redor do rio e determinou dois âmbtios de desenvolvimento, a oste uma zona de habitação, comercial e terciária, e ao leste, um setor de novo desenvolvimento industrial e tecnológico.
O Parque da Marina, surge como ponto culminante do corredor verde da Riera de Sant Climent. O rio segue aberto ao longo de todo o parque, gerando alguns embalsamentos laterais que, no caso das enxurradas ou enchentes, atuam como bolsas de armazenamento temporário da água da chuva. O sistema de alamedas e caminhos que chegam ao norte se abre e percorre o parque livremente, organizando percursos diversificados. Estes caminhos são classificados em dois tipos, aqueles que estão no nível do terreno que, mediante modificações da topografia ou da construção de passarelas, correm por cotas mais elevadas e que permitem cruzar o rio ou as vias circundantes. Estas modificações da topografia, através de dunas permitem a criação de ambientes diferenciados onde são situados os diferentes usos do parque: o anfiteatro natural, a zona de jogos infantis, o oloretum, e áreas de piquinique.
O parque busca gerar um sistema hidráulico sustentável, tanto pelo sistema de recolhimento e infiltração da água pluvial, como através do conceito e sistema de irrigação. O recolhimento das águas pluviais é realizado mediante um sistema de canais vegetais de grande seção, que traçados com inclinações bem suaves, permitem conduzir a água até as zonas previstas de inundação, evitando que esta sejam levadas para os sistema geral de esgoto.Isto potencializa ao máximo a infiltração da água da chuva ao subsolo e o aproveitamento desta como irrigação natural. Por outro lado, o sistema de irrigação geral do parque foi projetado sob critérios de custo mínimo e rendimento máximo de água. Todo o parque é regado por gotejamento, possibilitando assim seu uso contínuo, favorecendo a absorção da água pela terra, reduzindo o consumo e possibilitando o uso das águas residuais e do freático. Por último, trabalhamos no projeto e construção da zona de habitação, comercial e de serviços, situada a oeste do Parque da Marina. Este sector, denominado Vilamarina, situa-se entre as ruas Germans Gabrielistas, limítrofe com o Parque, e a Avenida de la Vila, que comunicam o centro urbano de Viladecans com a nova estação ferroviária junto à rodovia.
Frente aos critérios de desenvolvimento em baixa densidade, zoneamento e diversidade de imagem, habituais em atuações deste tipo, nossa proposta buscou construir uma peça urbana de alta densidade, concentração de usos e sobretudo unidade estrutural e formal que se convertesse em um elemento referencial. Com ele pretendíamos fortalecer a união entre o núcleo de Viladecans e a estação, mediante a continuidade comercial das vias que relacionam ambos os extremos, a permanência de um tecido habitacional e a fortaleza de uma imagem arquitetônica reconhecível.
O edifício foi projetado a partir de um grande zócalo prismático de três andares que ocupava a totalidade do terreno. O térreo, fundamentalmente comercial, foi organizado situando o pequeno comércio e as entradas às habitações apoiadas na Germans Gabrielistas, desenvolvida como um grande passeio de pedestres capaz de relacionar o conjunto com o parque e a ciuade com a estação. O centro comercial, em troca, foi alocado adjacente à Avenida de la Vila. O "shopping" ou eixo central foi traçado paralelo à rua e com suas principais entradas nos extremos, abocadas na estação e no núcleo urbano, de forma que pudessem chegar a funcionar como uma rua interior de comunicação entre Viladecans e a estação.
As 320 habitações do complexo, são distribuídas em 10 torres de doze pavimentos, unidas no primeiro e no segundo andares por uma franja de habitações dúplex, situadas sobre o pequeno comercio da Germans Gabrielistas, com o objetivo de vitalizar o caminho e dinamizar a frente do parque. As habitações das torres, três por patamar, são orientadas leste-oeste, priorizando as vistas para o parque. A vontade de unificar o conjunto nos levou à utilizar dois únicos materiais na fachada, tanto para el zócalo comercial como para las torres. Escolhemos um tijolo branco esmaltado de grande luminosidade para as empenas cegas e um porcelânico escuro para as fachadas com aberturas, oeste com janelas horizontais, e leste com terraços envidraçados voltados ao parque. O conjunto funciona como um pequeno bairro, com todos os equipamentos e serviços necessários, e ao mesmo tempo, vincula-se e se enlaça ao núcleo histórico de Viladecans, dando continuidade ao crescimento da cidade até os novos sistemas de transporte.